Atualizado em 31 de mai. de 22
POR MENOS JOGO DE INTERESSES E MAIS GLOBALIZAÇÃO SEM ILUSÃO
Estamos em um mesmo barco. Navegamos na nova terra. Compartilhamos a dificuldade de ser. Por uma outra globalização. Consumismo, a superação, a busca incessante pelo capital e o fatal desprezo pela integridade. Não existe romantismo na globalização, diga-se de passagem, na globalização do capitalismo.
A globalização é divulgada pelos meios de comunicação, anúncios, em películas cinematográficas, como reflexo da necessidade do sistema em se manter inalterado: penetrando em nosso íntimo a profunda carência de sermos coisa – aquilo que o poeta expressou em seu poema #EuEtiqueta. Carlos Drummond destaca aquilo no quê nos tornamos ao enxergarmos o supérfluo como essencial, mas não somos os culpados, completamente.
Obedecemos em ressonância a mistura do encantamento e da necessidade de termos o tudo para sermos: repletos de alegria. A onde vai culminar a nossa ânsia de consumo? Não paramos ainda para analisar e nem deglutir. Como relata Milton Santos: o que é encenado para nós cidadãos é a fábula da globalização, em um contexto romântico e pueril. Em uma conotação de estarmos ligados a uma grande corrente tecnológica, nos conectamos a uma grande rede mundial. Mas desastrosamente não nos deparamos coma realidade que somos uma mesma cultura, um mesmo gosto – pelo o que se ver um contragosto.
#SomosCoisas, simplesmente, e nos devoramos.
O consumismo desenfreado nos desconstrói, arrasa o meio, a convivência. Sofremos se não temos. Nos deixa inconformados o desejo, ao ser engolido pela a realidade mesquinha da vaidade. Precisamos mais do que água ou comida – quem dera fosse arte, balé – como diz a letra da música contemporânea. Descartamos tudo e não nos damos conta da cama de gato onde nos encontramos em meio à névoa. Em algumas lendas do oriente essa cegueira é reflexo da opacidade posta pelo véu de Maia, o véu da ilusão. Não existe mais nada do que isso, ilusão. A imensa saga de que precisamos ter par ser. Esta fábula nos fascina a prospectar sempre mais o novo e desperdiçar tudo que não está antenado ou em conexão com o mundo frenético e girante do capitalismo avassalador. Nada o equilibra e a regra é essa. O desconstruir faz prosperar ciclicamente o capitalismo corrosivo.
Nesta nossa globalização temos como foco a capital – e comum a e esse sistema – desconsiderarmos todo o resto. Parece ser muito desnecessário ver o universo. As mazelas que permeiam a humanidade são esquecidas ao confrontar com os interesses do sistema. Não existe regra de igualdade na atmosfera imposta pelo capital. Está tudo errado! Esse mundo que projetamos está a ruir veementemente.
O nosso respeito por nós mesmo se depara no objeto, amamos mais o artefato do que o próximo que respira ao lado. Para aonde caminhamos? Não precisamos ser uma única coisa, as diferenças globais nos enriquecem, dispomos nisto de várias óticas. Precisamos ser diversos, porém, carecemos do respeito com nossas diferenças benignas: valores, credos e culturas. A homogeneização nos retrocede porque não temos jugo de valor algum. Somos massa, nos robotizamos. O todo não existe neste estágio de consciência pífia. Somos como diria Caetano, o avesso do avesso do que verdadeiramente somos, seres pensantes e capazes de se mostrarem superiores e desbancar as manobras capitalistas.
Não tente ficar parado! Globalização deve existir, mas outra globalização. Outra que não nos empurre ao vazio em que nos encontramos. Outra em que não tenhamos que ser números que compra mercadorias e esses mesmos números correm incessantemente para outros números, conseguindo ficar preso, procurando a liberdade. Pois é, essa metáfora nos traduz dentro deste sistema.
Neste marasmo não evoluiremos e estagnamos sendo apenas coisas, ou traduzidos pelas obras Hollywoodianas, representados como apenas zumbis. Em sumo, mercadoria é o que somos. Sendo assim, temos restrições. Coisas, decisivamente têm prazo para o fim. Decreta-se a validade desde o ponto de fabricação. Esse sistema tem data para acabar. “Porém ainda não é o final”– aponto que pode haver erro nesta análise. Pode ser visto o colapso das mercadorias antes mesmo dos outros elementos. A massa que lhe dá consistência pode ser a primeira a vir a perecer. Sobreviventes serão aqueles que estarão dentro da bizarra ilusão de Maia, mas não estarão sendo corroídas por ela. Esses estarão sendo, e não tendo o superego medonho da cobiça.
Bárbaro Xavier