Quatro mulheres do teatro, com M maiúsculo

O myClappy reuniu uma breve biografia de quatro diretoras brasileiras da atualidade que vêm se destacando na cena teatral. Tanto pela qualidade do seu trabalho como por, cada vez mais, se apoderarem de um espaço ocupado, majoritariamente, pelo sexo masculino.  


Bia Lessa (1958-) 

Conhecida por um teatro de pesquisa e altamente experimental e visual, Bia Lessa foi a primeira mulher a vencer o APCA de Melhor Direção, no ano de 2018 , com a montagem de  “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. O espetáculo venceu, no mesmo ano, o Prêmio Shell de Melhor Direção e, em breve, ganhará uma versão nos cinemas. 

A diretora brasileira, que iniciou sua carreira como atriz, transita não só pelo teatro como também pelo cinema, artes visuais e eventos musicais. No currículo  de Bia Lessa estão ainda grandes espetáculos como “Macunaíma – Uma Rapsódia Musical”, de Mário de Andrade, “Orlando”, de Virginia Woolf,  “As Três Irmãs”, de Tchekov, e “Medeia”, de Eurípedes.  Já dirigiu óperas e shows de artistas como Maria Bethânia e Gal Costa. 

Bia Lessa nasceu na capital paulista mas logo cedo trocou São Paulo pelo Rio de Janeiro, onde estudou na consagrada escola Tablado. A sua estreia como diretora aconteceu na década de 80, com “A Terra dos Meninos Pelados”, uma adaptação da obra de Graciliano Ramos – um livro infantil sobre equidade social e liberdade. 

Entre as suas referências, além da literatura de Mário de Andrade e Virgínia Woolf, estão o trabalho de Antunes Filho (atuou como atriz nas peças “Macunaíma” e “O Eterno Retorno”); e do grupo carioca, Asdrúbal Trouxe o Trombone, criado na década de 70. 




Christiane Jatahy (1968-)

Natural do Rio de Janeiro, Christiane Jatahy é a primeira e única diretora brasileira a encenar uma peça na Comédie Française. A convite da companhia francesa, em 2017, a diretora de teatro, autora e cineasta brasileira dirigiu uma versão para os palcos do clássico do cinema francês “A Regra do Jogo”, de Jean Renoir. 

Com formação em teatro, cinema, jornalismo e filosofia, Christiane Jatahy escreveu e dirigiu peças que transitam entre “as fronteiras da realidade e da ficção, e que fazem uso de filmagens projetadas gravadas e ao vivo”. 

A diretora ganhou o Prêmio Shell de Melhor Direção, nos anos de 2015 e 2012, com as peças “E se elas fossem para Moscou?” baseada na obra “As três irmãs” de Anton Tchekhov, e “Julia”, uma adaptação da obra “Senhorita Julia”, de August Strindberg, que mistura “teatro e cinema ao vivo”. 

No ano de 2018, Christiane Jatahy começou a desenvolver o díptico “Nossa Odisséia”, a partir da Odisséia de Homero. A 1ª parte, intitulada “Ítaca”, estreou no Ódeon Théâtre de l’Europe, em Paris. A 2ª parte, “O agora que demora”, filmada na Palestina, Líbano, África do Sul, Grécia e na Amazônia, é “um filme que se constrói em diálogo com o teatro, e mistura a ficção grega com histórias reais de artistas refugiados”. O trabalho, com produção do Théâtre National Wallonie e do SESC, estreou em São Paulo, em maio de 2019, e no Festival d’Avignon, em julho de 2019. 


Daniela Thomas (1959-)

Conhecida, sobretudo, pelo seu trabalho no universo do cinema, Daniela Thomas é também umas das diretoras teatrais de destaque da atualidade. A sua personalidade é altamente multidiscipinar. 

É cineasta, cenógrafa, figurinista, iluminadora e dramaturga. Com uma consagrada trajetória como diretora de cinema, foi idealizadora de várias cenografias do teatro nacional, assim como trabalhou em parceria com Felipe Hirsch e Gerald Thomas, com quem realizou “experimentações monumentais de telões, transparências, cenários minimalistas e maquinarias”. 

Estreou no teatro em 1983, fazendo a cenografia da peça “All Strange Away”, de Samuel Becket, no grupo La MaMa, em Nova Iorque. A peça foi dirigida por Gerald Thomas, com quem trabalhou até o ano de 1995, em mais de duas dezenas de espetáculos. Ao todo, entre cenografia e direção, fez mais de 70 peças teatrais. Em 2019, dirigiu “Mãe Coragem”, do dramaturgo alemão Bertolt Brecht.

No cinema, Daniela colaborou com grandes nomes como Fernando Meirelles e Walter Salles, em longas como "Central do Brasil", “Terra Estrangeira” e "Linha de Passe". 


Duda Maia (1968-)

Uma “grande direção de movimento” é como Duda Maia caracteriza o seu trabalho como diretora. Formada pela Escola de Dança Angel Vianna, no Rio de Janeiro, a também coreógrafa dirigiu, entre outros espetáculos, o musical ELZA, que percorreu várias cidades do Brasil, e o premiado musical "AUÊ", em parceria com o grupo Barca dos Corações Partidos. 

“AUÊ” foi um “divisor de águas” na carreira de Duda Maia. O espetáculo recebeu vários prêmios entre eles: Shell (Melhor Direção), Cesgranrio (Melhor Direção, Melhor Direção Musical e Melhor Espetáculo), Botequim Cultural (5 categorias, incluindo Melhor Direção e Melhor Espetáculo). A peça foi ainda indicada ao Prêmio APCA de Melhor Direção. 

Natural do Rio de Janeiro, Duda Maia chegou ao universo teatral como preparadora corporal. Seu trabalho nos palcos carrega uma linguagem física marcante e contemporânea. A cada espetáculo, a diretora procura fazer com que “espectador se afete e tenha alguma opinião (...) sem levantar nenhuma bandeira”. 

Em 2016, dirigiu o musical infanto-juvenil “A Gaiola”, vencedor dos principais prêmios de teatro infanto-juvenil. Duda ainda ganhou o prêmio de Melhor Direção por “Contos Partidos de Amor”, texto de Eduardo Rios, baseado na obra de Machado de Assis. 


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