4 dramaturgos brasileiros que não podem ficar de fora da sua estante
NELSON RODRIGUES (1912 – 1980)
O anjo pornográfico. Imoral, pervertido, obsceno. Apenas alguns dos adjetivos já usados pra descrever este, que é considerado por muitos, o maior dramaturgo brasileiro. Também foi jornalista e passou grande parte da vida em redações. Foi dentro de uma que presenciou o assassinato do irmão, Roberto, em 1929. Uma mulher indignada com a exposição de seu nome no jornal depois da separação do marido, queria se vingar de Mário, dono do periódico e pai de Nelson. Não o encontrando, disparou contra Roberto. Alguns meses depois, a família também perdia o patriarca, levado pela tristeza da morte do filho.
Essas fatalidades desencadearam um longo período de dificuldades financeiras para os Rodrigues e foi pensando em ganhar um pouco mais de dinheiro, que Nelson começou a escrever peças. Vestido de noiva (1943),sua obra mais marcante,alçou o teatro brasileiro à modernidade. Chegou a ser considerada por alguns como impossível de encenar tamanha sua dinâmica na troca de roupas, cenários e personagens, mas foi sucesso absoluto na estreia. Nelson assistia, de camarote, a reação dos espectadores abaixo. Temeroso, morria de medo de ser vaiado na frente da mãe, que o acompanhava. O primeiro e segundo atos acabaram com poucas palmas, alguns ofendidos, poucas reações positivas no geral. Mas ao final do terceiro, os aplausos eram ensurdecedores e seu nome entrava para história.
Foram 17 peças adaptadas incontáveis vezes para o teatro, televisão e cinema. Entre elas: Álbum de família (1945), Senhora dos Afogados (1947), A Falecida (1953), O beijo no asfalto (1960)eToda nudez será castigada (1965).
JORGE ANDRADE (1922 – 1984)
Formado dramaturgo pela Escola de Artes Dramáticas da USP, Jorge Andrade é um dos maiores representantes do realismo brasileiro. Suas peças contam a história do nosso país através de personagens fortes e marcantes. Em seu primeiro texto, A Moratória (1955), apresenta uma rica família tendo que lidar com a crise cafeeira do final dos anos 20 e a súbita mudança de status em suas vidas. Em Pedreira das Almas (1958) o cenário é Minas Gerais em meio ao fim da exploração de ouro naquelas terras durante a Revolução Liberal de 1842.
Outros títulos do autor incluem Vereda da Salvação (1964), A Escada (1981) e Os Ossos do Barão (1963), sua única comédia.
PLÍNIO MARCOS (1935 – 1999)
“E se continua essa situação que tá aí, a peça vira um clássico”. Assim profetizou Plínio Marcos em uma entrevista concedida a Jô Soares em 1988. Ele se referia à Navalha na Carne, em cartaz na época. Dito e feito. O dramaturgo santista começou a carreira artística em um circo, onde ocupava diversas funções, inclusive a de palhaço.
Em 1958, escreveu sua primeira peça: Barrela, inspirada em fatos reais. Preso por um pequeno delito, um garoto de classe média é violentado por seus colegas de cela e, depois de solto, tomado pela raiva do que havia lhe acontecido, começa a matar. Após apenas uma apresentação e um teatro chocado, a peça foi censurada e assim permaneceu por 21 anos. Essa foi somente a primeira de TODAS as obras do autor que tiveram o mesmo destino durante a ditadura militar.
Grande defensor da liberdade de expressão, Plínio retratava os que não eram (e ainda não são) retratados: mendigos, prostitutas, prisioneiros. Em suas próprias palavras, “nunca fez nada pra agradar as pessoas”. Mesmo assim, agradou. Outros clássicos de sua autoria incluem Dois perdidos numa noite suja (1966), Navalha na carne (1967), Abajur lilás (1969) e A mancha roxa (1988)
ARIANO SUASSUNA (1927 – 2014)
Paraibano de nascença, mudou-se para Recife na adolescência. Suas obras são grandes homenagens à cultura nordestina, que sempre fez questão de defender e divulgar. Foi dramaturgo, romancista e poeta e afirmava que tinha na poesia a fonte profunda de tudo que escrevia. Se dizia “um palhaço de circo frustrado. Sem coragem pra entrar no picadeiro, sem coragem pra entrar no palco”, mas como autor de teatro escreveu “peças para os outros representarem, pra ver se conseguia reproduzir aquele mundo maravilhoso do circo”.
Era conhecido pelo bom humor e inúmeros causos engraçados que compartilhava em aparições públicas e entrevistas. Sua obra mais conhecida talvez seja O auto da compadecida (1955), adaptada tanto para o cinema, quanto para a televisão. Igualmente brilhantes são O rico avarento (1954), O santo e a porca (1957)e O casamento suspeitoso (1961).
No ano de sua morte, em 2014, Suassuna terminava os trabalhos de seu último romance A Ilumiara – Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores.Publicado postumamente em 2017, o livro é tido pelo próprio autor, como o “livro de sua vida”, em que, pela primeira vez, conseguiu unir o poeta, o dramaturgo e o romancista.
Escrito por: Paula Abritta