4 dramaturgas brasileiras que você precisa conhecer

A matéria é de Paula Abritta.

Nossa história teatral também foi (e é!) escrita por mulheres incríveis que não podemos deixar de ler.

RACHEL DE QUEIROZ (1910 – 2003) Natural de Fortaleza, a jornalista, tradutora e romancista, lançou seu romance de estreia com apenas 19 anos de idade. O Quinze (1930) retrata a grande seca no nordeste do país em 1915 através dos olhos de uma professora. A história rapidamente despertou a atenção da crítica literária brasileira para a nova autora. A primeira peça teatral veio em 1953: Lampião acompanha a história do legendário personagem título e de seu bando. Em 1958, publica A beata Maria do Egito, inspirado na tradição das beatas de Juazeiro do Norte, no século 19. Ambas histórias são tecidas por entre fios de muita pesquisa histórica e ficção social, característica pela qual Rachel ficou conhecida. Foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, em 1977.

HILDA HILST (1930 – 2004) É considerada pela crítica especializada, uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século 21. Tratou de assuntos complexos e polêmicos como a condição humana, a morte, a relação do homem com Deus, sexo e desejo. Em 1966, abandonou sua agitada vida social em São Paulo para refugiar-se na Casa do Sol, em Campinas - hoje o Instituto Hilda Hilst - imóvel construído por ela para servir de refúgio para sua inspiração artística. Viveu o resto de sua vida ali, onde produziu cerca de 80% de todo seu trabalho. Em entrevista em 1989, afirmou: “Eu quero que a pessoa abra o livro e diga: ‘Eu gosto’, sem ter nunca me visto na vida. Não me interessa ficar falando senão seria senadora ou política. Quero escrever e só pude escrever tudo isso porque não falei, fiquei em casa escrevendo”. Entre 1967 e 1969 escreveu oito peças, entre elas O Verdugo (1969) que conta a história de um carrasco que hesita em executar um revolucionário amado pelo povo. Reclamava abertamente da pouca cobertura que a crítica brasileira lhe dedicava quando viva. Em resposta, como uma tentativa de ser “popular” e de mais fácil compreensão, escreveu O caderno rosa de Lori Lamby (1990), seu primeiro livro pornográfico. Outras peças de sua autoria incluem A Possessa (1967), O rato no muro (1967) e A morte de patriarca (1969).

CONSUELO DE CASTRO (1946 – 2016) Possui uma vasta obra dramatúrgica iniciada com a peça Prova de Fogo (1968), sobre um grupo de estudantes que ocupa o prédio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, às vésperas do AI-5. O texto foi censurado e só chegou a ser encenado em 1993. Segundo o crítico Yan Michalski, Consuelo é “uma representante destacada da brilhante geração de dramaturgos surgida sob a ditadura”, com um “sentimento de inconformismo e indignação que perpassa tudo que escreve”. Trabalhou diversas vezes em parceria com ator e diretor Antonio Abujamra que se apropriou de uma frase da amiga em diversas peças: “A vida é trânsito, é dia útil. Não é domingo”. Consuelo não gostava de domingos. Outros textos de sua autoria incluem À Flor da Pele (1969), Caminho de Volta (1974), A cidade impossível de Pedro Santana (1975), Script-Tease(1985) e Medeia – Memórias do Mar Aberto (1997).

GRACE PASSÔ (1980 - ) Mineira de Belo Horizonte, Grace começou a carreira de dramaturga no grupo espanca! que fundou junto com amigos em 2004. Sua primeira peça, Por Elise (2004), na qual também atuou e dirigiu, ganhou vários prêmios e rodou o país em mais de 20 festivais nacionais e internacionais de teatro. A ela seguiram Amores Surdos (2006), Congresso Internacional do Medo (2008) e Marcha para Zenturo (2009). Em 2014, se despede do grupo que ajudou a criar e lança colaborações com diversos artistas e companhias de teatro, como em Contrações (2012) e Os Bem Intencionados (2012). Em 2016, estreia Vaga Carne, monólogo que escreveu e no qual também atuou, recebendo o Prêmio Shell de melhor texto, o segundo de sua carreira.