Descrição
Tudo começou em 1948, quando o deputado Antônio Balbino, influenciado por intelectuais e artistas baianos, encaminhou à Assembleia Legislativa o Projeto de Lei no 432 propondo a construção de um grande teatro em Salvador. Com inauguração prevista para 1951, o local escolhido foi a Praça Dois de Julho, no Campo Grande. A sugestão do nome Castro Alves, em homenagem ao poeta baiano, foi do teatrólogo Adroaldo Ribeiro Costa. A obra foi projetada inicialmente pelos arquitetos Alcides da Rocha Miranda e José de Souza Reis. ARQUITETURA “OUSADA” - No governo de Otávio Mangabeira, Diógenes Rebouças foi nomeado para elaborar outra planta arquitetônica, considerada “ultramoderna” para os padrões da época. A construção chegou a ser iniciada, mas foi interrompida com o fim do seu mandato. Finalmente, Antônio Balbino, já governador da Bahia, designou o arquiteto José Bina Fonyat Filho e o engenheiro Humberto Lemos para a elaboração de outro projeto, que acabou conquistando na ocasião uma menção honrosa na 1ª Bienal de Artes Plásticas em São Paulo, “por sua arquitetura moderna e ousada”. A obra, a cargo da Construtora Norberto Odebrecht, teve início em 2 de julho de 1957 e foi concluída um ano depois, em 30 de junho de1958, com inauguração marcada para 14 de julho. Assim, com uma arquitetura vanguardista, o Teatro Castro Alves era a casa de espetáculos mais completa das Américas, dispondo dos mais modernos equipamentos. INCÊNDIO - Por determinação do governador Antônio Balbino, dias antes do ato inaugural, o Teatro foi aberto à visitação pública. Foi nesse período, na madrugada chuvosa de 9 de julho de 1958, cinco dias antes da sua abertura oficial, que o bloco principal do TCA foi destruído por um incêndio de causas desconhecidas, deixando a população baiana em estado de choque. Reafirmando o compromisso com a Bahia, Antônio Balbino prometeu reconstruir o teatro. Assim, em 18 de julho de 1958, uma missa campal no Campo Grande marcou o início das obras. A Concha Acústica, não atingida pelo incêndio, foi inaugurada em abril de 1959. O processo de reconstrução do TCA durou nove anos, passando por três gestões governamentais. Ainda assim, algumas atividades artísticas foram desenvolvidas nos escombros do Teatro, durante o período em que esteve fechado, a exemplo de Martim Gonçalves, que dirigiu a “Ópera dos Três Tostões” (1960), e a peça teatral “Calígula” (1961), que teve o consagrado ator Sérgio Cardoso no papel principal. INAUGURAÇÃO - O Teatro Castro Alves foi inaugurado em noite de gala no dia 4 de março de 1967, pelo governador Lomanto Júnior. Compareceram à solenidade o então presidente da República Castelo Branco, entre outras autoridades e convidados especiais. A programação inaugural durou um mês, e contou com apresentações da Companhia Nacional de Ballet, Quinteto Villa Lobos, o espetáculo teatral “Oh Que Delícia de Guerra”, o show “Rosa de Ouro”, com Clementina de Jesus e Paulinho da Viola, além do cantor e compositor baiano Dorival Caymmi e do Madrigal da Universidade Federal da Bahia, entre outras atrações. Houve, também, um recital de poesias em comemoração aos 120 anos de nascimento de Castro Alves, o Poeta dos Escravos. FECHAMENTO E REABERTURA - Ao longo da sua história, espetáculos memoráveis foram realizados no TCA, como o emocionante show com Caetano Veloso e Chico Buarque, que resultou em disco gravado ao vivo, e a fantástica apresentação de Caetano e Gilberto Gil na sua despedida do Brasil antes da partida para o exílio na Inglaterra, nos anos 70. Em julho de 1989, depois de um emocionante concerto da Orquestra Sinfônica da Bahia com a participação do Afoxé Filhos de Gandhy, o Teatro fechou para reforma, sendo reinaugurado em 22 julho de 1993. O show especial de reinauguração reuniu no palco da Sala Principal os baianos Maria Bethânia, Gal Costa e João Gilberto. Nos últimos anos, mais que um teatro, o TCA consolidou-se como um centro cultural vivo e dinâmico. Desde 2007, acessibilidade, democratização e formação em cultura são as palavras-chave. Focando suas atividades na formação e requalificação técnica, assim como na ampliação do acesso ao universo das artes, o TCA, além de abrigar espetáculos dos principais produtores locais e nacionais, intensificou sua programação própria, realizando espetáculos, projetos e oficinas que fortaleceram a aproximação da classe artística e o aumento do público em geral. Somente no último biênio (2015 e 2016) passaram quase meio milhão de expectadores, nas mais de 300 apresentações realizadas na sua Sala Principal e na recém-inaugurada Concha Acústica. Mas esses números revelam apenas uma parte do que representa o TCA para a cultura baiana. Além de receber importantes espetáculos locais, nacionais e internacionais das mais variadas linguagens artísticas, o TCA realiza uma série de atividades formativas, tais como bate papos e oficinas, além de abrigar exposições e lançamentos de livros. Além dos projetos Domingo no TCA e Conversas Plugadas, o TCA apoia a centenas de grupos de teatro e dança através do seu Centro Técnico, dispondo da tecnologia e know-how necessários para a confecção de figurinos e cenários. Atende a demanda por espaços, disponibilizando durante todo o ano salas de ensaio para diversos grupos. NOVO TCA - Em novembro de 2009, foi lançado o Concurso Público Nacional de Anteprojetos Arquitetônicos para Requalificação e Ampliação do Complexo TCA. O objetivo foi identificar a melhor proposta para requalificação de todos os espaços do TCA – Sala Principal, Sala do Coro, Concha Acústica, Foyer, Centro Técnico, Vão Livre, Jardim Suspenso e o Café Teatro. O Estúdio América, de São Paulo, foi o escritório vencedor. O conceito para o Novo TCA surgiu da expansão e ampliação de um potencial existente pautado em três pilares: acessibilidade, democratização e formação em cultura. O Novo TCA é, portanto, um projeto grandioso e potencializa a utilização do espaço físico do teatro, mantendo os valores estéticos e históricos da estrutura existente, uma vez que esta se constitui num valioso patrimônio cultural soteropolitano e nacional. Com cerca de R$ 80 milhões investidos pelo Governo do Estado da Bahia e um aporte de R$ 10 milhões do Ministério da Cultura (Minc), a primeira etapa de obras do projeto NOVO TCA foi entregue em maio de 2016. A Requalificação da Concha Acústica abrangeu a construção de novos camarotes; construção de novos camarins; instalação da nova cobertura do palco da Concha, na forma de uma passarela técnica; recuperação das arquibancadas (respeitando o formato original do anfiteatro); construção da casa de máquinas (central elétrica, ar-condicionado, gás e demais instalações) e a construção de um estacionamento para o público (05 pavimentos/300 vagas). Na reforma, além de toda requalificação técnica do espaço, características originais foram mantidas, como o formato semi-arena ao ar livre, a concha e a torre de luz, elementos tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN em setembro de 2014. Como marco de reabertura da Concha Acústica e conclusão da 1ª fase do projeto NOVO TCA foi realizado o Festival Eu Sou a Concha. EU SOU A CONCHA - Depois de 2 anos e meio em reforma, a Concha Acústica reabriu com o Festival Eu Sou a Concha!, que reuniu grandes nomes da música baiana e nacional, além de várias performances de dança, teatro e circo e um público de 20 mil em quatro dias de apresentações. O Festival contou a direção artística do Coletivo Criativo N, que desenvolveu o projeto concebido pelo TCA. Maria Bethânia e Margareth Menezes abriram a primeira noite do festival. Após a apresentação das divas, foi realizado o espetáculo Kindembu com Afoxé Filhos de Gandhy, Cortejo Afro, Ilê Aiyê, Malê Debalê e Muzenza em diálogo criativo com músicos da nova geração: Pedro Pondé, Dão, Larissa Luz, Ellen Oléria e Marcia Castro, além da participação especial do grupo Olodum. O acesso ao evento deu-se apenas para convidados, com 90% dos ingressos distribuídos para instituições como as Obras Sociais Irmã Dulce, Hospital Martagão Gesteira, Hospital Aristides Maltez, Projeto Axé, NEOJIBA, Ilê Aiyê e Olodum, entre outras entidades. Jovens das Bases Comunitárias de Segurança da capital baiana e operários da construtora responsável pela obra da Concha também foram contemplados com a iniciativa, cujo objetivo foi priorizar a participação de um público especial, que não tem condições de frequentar a maioria dos equipamentos culturais de Salvador. Carlinhos Brown abriu a segunda noite, que seguiu majestosa com o encontro do grupo Baiana System com o cantor Ney Matogrosso. O terceiro dia teve a honra de reunir os Novos Baianos pela primeira vez em 17 anos: Baby do Brasil, Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Luiz Galvão e Paulinho Boca de Cantor, se reuniram para a apresentar o espetáculo baseado no repertório do emblemático disco “Acabou Chorare”. O sucesso foi tão grande que houve uma apresentação extra e assim ganhamos um quarto dia de Festival.