Descrição
Meados dos anos 70 e o jovem diretor de teatro, Pedro Paulo Cava, com apenas 24 anos, passa a ser também o diretor e proprietário da Galeria Guignard, situada no Teatro Marília, que na época era o centro da efervescência cultural da cidade e para onde convergiam artistas e intelectuais de todas as gerações: músicos, escritores, pintores, jornalistas mas, principalmente a gente de teatro que tinha no Stage-Door, bar que funcionava no teatro, o seu ponto de encontro. Com a Galeria Guignard, Pedro Paulo Cava agita o espaço em parceria com Julio Varella que era o diretor do Marilia. Traz para a sua galeria não só os melhores artistas mineiros, mas realiza, no período de 1974 a 81, grandes exposições de artistas nacionais e internacionais, além dos primeiros leilões de arte da cidade. Com isto, o jovem teatrólogo amplia seu círculo de relacionamentos e amizades com a classe mais rica de Belo Horizonte: empresários, construtores, profissionais liberais bem sucedidos, banqueiros, políticos, etc. A Guignard era a primeira galeria de arte da cidade e sua clientela era composta pelos cidadãos de maior prestígio social e poder aquisitivo, mas que também eram dotados de sensibilidade e um olhar generoso para as artes em geral. A cidade crescia, a economia crescia, o mercado de arte estava em franca expansão. Era a época do chamado “milagre econômico brasileiro”. Um destes freqüentadores constantes da Galeria Guignard era o empresário da construção civil, Luiz Fernando Pereira Silva, diretor da Elo Engenharia, uma das mais importantes empresas mineiras do setor. Pedro Paulo e Luiz Fernando logo estabeleceram sólidos laços de amizade e inúmeras vezes será a Elo a empresa que vai apoiar espetáculos dirigidos e produzidos por Cava. Na contramão da história, Pedro Paulo resolve permanecer em Belo Horizonte quando a maior parte de sua geração vai partir para outros centros em busca de oportunidades nas artes e no jornalismo. Seu sonho acalentado desde esta decisão era ter sua própria casa de espetáculos. E desse desejo, que ele manifestava a todos em várias oportunidades, saiu a promessa de Luiz Fernando de que, se algum dia a Elo Engenharia fosse construir algum edifício comercial, Pedro Paulo teria lá seu espaço para montar sua casa de espetáculos. Finalmente, em 1986, Luiz Fernando e sua esposa Iracema, fazem uma visita de surpresa a Pedro Paulo em sua casa e abrem sobre a mesa a planta do Ed. Couto e Silva, na Rua da Bahia, onde já estava projetado o espaço para o futuro Teatro da Cidade, cumprindo a promessa de mais de uma década. Com um prazo de três anos para a inauguração do edifício e do teatro, Pedro Paulo Cava arregaça as mangas e sai a procura de parceiros, patrocínios e apoios visando inaugurar sua casa em 1989. A Elo Engenharia faria as obras básicas de infra estrutura do teatro e o Teatro de Pesquisa, entidade dirigida por Cava, realizaria a construção do teatro propriamente dito. Nesta etapa entram em cena mais dois diretores da Elo Engenharia que abraçam de corpo e alma o projeto do Teatro da Cidade: Beth e Luiz Carlos Villani. Sem um tostão em caixa, o Teatro de Pesquisa vai solicitando a colaboração de amigos, empresários, artistas e neste projeto envolve mais de duas centenas de colaboradores e patrocinadores numa campanha por doações de materiais e recursos para erguer um sonho de concreto. Cava batizou a casa com o nome de Espaço Cultural Elo, que reuniria no mesmo local, além do Teatro da Cidade, uma galeria de arte e um café-livraria. Elo1 Foram quase quatro anos de trabalhos árduos em busca de parceiros. Cada item pensado e projetado por Raul Belém Machado e Sybelle Meyer, arquitetos que doaram suas idéias e projetos, Pedro Paulo saia a campo para obter junto às empresas desde parafusos, louças sanitárias e fiação até revestimentos, iluminação e pisos para concluir a obra a tempo de inaugurá-la ainda em 1989. Não foi possível e a inauguração foi adiada para o ano seguinte. O item que mais pesou em toda a construção e instalação foi a mão de obra, esta sempre paga e ás vezes com muita dificuldade. Pedreiros, mestres de obra, carpinteiros, eletricistas, instaladores, bombeiros, serralheiros, carpinteiros, cenotécnicos, pintores, gesseiros, faziam parte de um time de mais de cinqüenta profissionais que o Teatro de Pesquisa mantinha em sua folha de pagamentos semanal. E os recursos para isso advinham de doações de amigos, empréstimos e aportes via Lei Sarney, nunca suficientes para a fase final de acabamento. Para piorar a situação, em março de 1990, o famigerado Collor confiscou os poucos recursos que eram mantidos em conta-corrente para fazer frente a todo tipo de gasto necessário para a conclusão do Teatro da Cidade. O Brasil parou e com ele o sonho de Cava. Como uma parte da obra já estava praticamente pronta, Pedro Paulo resolve inaugurar em maio de 1990 a galeria de arte, que foi batizada de Novotempo Galeria de Arte e abre suas portas com duas exposições magníficas de gravuras de Amilcar de Castro e Fayga Ostrower. Vai ser a Novotempo com uma sucessão de exposições bem programadas nos dois anos que se seguem, que vai levantar novos recursos para a conclusão do Teatro da Cidade. Finalmente a obra fica concluída em agosto de 1991 e o Teatro da Cidade–Espaço Cultural Elo, abre suas portas em setembro do mesmo ano com o espetáculo “Boca Molhada de Paixão Calada”, texto de Leilah Assunção, com direção de Pedro Paulo Cava, cenários e figurinos de Raul Belém Machado e tendo no elenco Laura Arantes e Fernando Ernesto. Ao contabilizar este período, o diretor Pedro Paulo Cava listou os Projetistas, Operários e Cenotécnicos principais, os Patrocinadores da Construção e os Colaboradores Especiais, sem nunca saber ao certo o montante real e total do que foi gasto para erguer aquela que viria ser a primeira casa particular de espetáculos de Belo Horizonte, erguida por um artista e seus amigos e sem estar associada a nenhuma instituição ou empresa que a sustente. De lá para cá o Teatro da Cidade torna-se referencia na produção teatral de Belo Horizonte e completa 25 anos de história e presença viva na vida cultural brasileira.